Que Valor Eu Tenho
O valor não está simplesmente nas pessoas ou nas coisas, mas no efeito que produzem para o outro. A identidade, por sua vez, está em cada pessoa, mas é sempre atribuída pelo outro. Tanto valor quanto identidade só existem em relação. A diferença é que a identidade depende de uma relação entre seres vivos, enquanto o valor pode existir até mesmo entre objetos.
Um empregador pode dispensar alguém por identificá-lo como ruim no trabalho. Essa identidade atribuída não está sob o controle direto da pessoa. Já o valor pode ser desenvolvido: ao concluir um curso de qualificação, o empregado gera em si um valor maior, visível no efeito positivo que trará ao trabalho. O empregador apenas reconhece esse valor ao aumentar o salário. Nesse processo, pode até rever a identidade antes atribuída e passar a enxergá-lo como alguém competente. Assim, embora a identidade não seja controlada, pode ser influenciada.
Uma cédula de dinheiro tem valor? Depende da relação. Numa casa de câmbio, sim. Numa mercearia, apenas se pertencer ao mesmo sistema monetário — ninguém paga em ienes numa padaria brasileira. O valor aparece no efeito que produz: a possibilidade de comprar, numa relação entre pessoas.
E uma roda, tem valor? Também depende da relação. Para o carro, sim, pois sem ela o carro perde sua função. Mas o carro não reconhece a roda, nem a roda ao carro. São coisas, não seres. Nesse caso, o valor se manifesta pela função que uma exerce sobre a outra, numa relação entre coisas.
Traçando essa linha que separa identidade e valor: a eletricidade sempre existiu e teve valor pelos efeitos que produz no universo, muito antes de ser descoberta. O que surgiu com os seres vivos foi apenas a sua identidade, o nome que lhe demos.
Assim como a eletricidade já tinha valor antes de ser identificada, também em nós o valor pode existir antes de ser reconhecido. Cabe aos outros percebê-lo, mas cabe a mim aumentá-lo ou diminuí-lo.
2025-08-19